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D. Sithembele Sipuka: violência contra mulheres, a “pandemia” do País

Agir agora, para acabar com a discriminação e a violência contra as mulheres: é, em síntese, o veemente apelo lançado por Dom Sithembele Sipuka, Bispo de Umtata e presidente da Conferência Episcopal da África do Sul (SACBC), numa longa reflexão divulgada recentemente, no final do mês de agosto que o País tradicionalmente dedica à valorização da dignidade e do valor do género feminino.

Cidade do Vaticano

Dom Sipuka nota na sua Carta que, infelizmente, o evento de agosto se transformou numa reflexão amarga sobre a difícil condição das mulheres sul-africanas, cada vez mais vítimas de actos violentos, opressores, discriminatórios e de feminicídios. Apesar das muitas propostas feitas para mudar esta tendência, explica o presidente da SACBC, estamos a ir lentamente porque “lenta é também a mudança de mentalidade, tanto nos homens quanto nas mulheres”. Os primeiros, de facto, “continuam a dominar estas últimas” que, por sua vez, “continuam a submeter-se à atitude humilhante e abusiva dos homens para com elas”.Oiça aqui a reportagem e partilhe

 “A violência de género é muitas vezes descrita como a segunda pandemia da África do Sul – sublinha Dom Sipuka – mas, apesar disso, não existem indicações convincentes de que esteja a ser enfrentada de forma prática e decisiva como se faz com a Covid-19”. “É tempo, portanto – insta o prelado – de limitar os belos discursos e teses sobre o assunto para passar à acção”, uma acção que seja “compreensível e viável em casa, na escola e na Igreja, de modo a reduzir a desigualdade e a violência de género, até acabarmos com ela”. Daí o apelo do Bispo sul-africano a “apoiar aquelas políticas governamentais que são em favor da equidade entre mulheres e homens”.

Entre os exemplos sugeridos pelo prelado neste sentido, estão a criação de Tribunais especiais para a violência contra a mulher; a distribuição, na escola, de absorventes higiénicos para as alunas, para que possam frequentar as aulas mesmo no período menstrual; um maior apoio por parte do Governo à Igreja para que se possa enfrentar juntos este problema; maiores limitações para os vendedores de álcool e uma regular sensibilização da população sobre a importância da igualdade de oportunidades.

Ao mesmo tempo, Dom Sipuka diz de estar consciente do facto de que “também a Igreja não é inocente” nesta frente, visto que tem visto casos de abusos a mulheres, e que “ainda há um longo caminho a percorrer nesta área”. O Bispo recorda, de facto, que “as mulheres não são ‘de segunda classe’ na Igreja: ministérios laicais  antes reservados apenas aos homens, agora estão abertos a ambos os sexos”.

Mas mesmo assim, “o problema não foi ainda totalmente resolvido”, devido a “atitudes patriarcais enraizadas pelo clericalismo”, bem como a maus hábitos que se foram consolidando ao longo do tempo: por exemplo, destaca o presidente da SACBC,  como os fiéis são constantemente instados a “tomar cuidado dos sacerdotes” através da sustentação do Clero, o que não acontece com as religiosas e as consagradas, que muitas vezes acabam por se ver privadas de recursos. “Isto não é muito diferente da situação que prevalecia durante o apartheid, quando o dinheiro gasto para uma criança branca era quase 9 vezes superior ao dinheiro gasto para uma criança negra – destaca Dom Sipuka. E não poderia ser este um dos factores que contribuem na diminuição das vocações religiosas femininas, enquanto as vocações sacerdotais continuam constantes?”.

Por fim, o prelado conclui a sua reflexão com uma oração “por todas as meninas e mulheres que são violadas e mortas pelos homens”: “Que a justa condenação daqueles que perpetram estes crimes hediondos leve à sua conversão e à restauração da sua humanidade. – invoca o Bispo – Que o Amor nos leve a todos a criar um ambiente seguro para todas as meninas e mulheres no nosso País e em todo o mundo”.

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