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Angola despede-se de Dom Alexandre Cardeal do Nascimento

Foi a enterrar na tarde desta terça-feira na Catedral da Arquidiocese de Luanda, Dom Alexandre Cardeal do Nascimento, depois de ter sido rezada a Missa de corpo presente na Paróquia da Sagrada Família.

Estiveram a participar dela, fiéis de toda Angola que se deslocaram para prestar a última homenagem ao primeiro Cardeal de Angola. Entre os presentes estava o Presidente da República, Presidentes e membros de partidos políticos, e de funcionários do Governo de Angola.

Líderes de confissões religiosas sediadas em Luanda juntaram-se em solidariedade, neste momento muito particular vivido pela Arquidiocese de Luanda, em particular, e pela Igreja Católica em Angola, de uma forma geral.

A concelebrar estiveram sacerdotes vindos de toda Angola, numa Celebração Eucarística que foi presidida pelo Arcebispo da Arquidiocese de Luanda, Dom Filomeno do Nascimento Vieira Dias, ladeado pelo Núncio Apostólico em Angola, Dom Kryspin Dubiel, bem como pelos Bispos das dioceses e arquidioceses que compõem a Conferência Episcopal de Angola e São Tomé.

Familiares e amigos no interior da igreja, como todos os ali presentes, estavam compenetrados vivendo entre a realidade da perda física e a esperança, consolidada na fé, de que um encontro é possível depois de feita a mesma passagem que Dom Alexandre Cardeal do Nascimento, fez no passado dia 28 de Setembro, aos 99 anos de idade.

Nessa Esperança e Fé, foi que Dom Zeferino Zeca Martins, se apegou ao dirigir-se aos presentes durante a homilia da décima missa de sufrágio pela alma do Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Luanda.

“Esta é a fé dos grandes que a Sagrada Escritura exalta. É a fé que o livro da sabedoria exalta. É a fé de Job”, um homem que provado naquilo que de mais de mais íntimo tinha, mostrou-se sempre temente a Deus e por isso um exemplo para todos nós: “eu sei que o meu Redentor está vivo, e no último dia se levantará sobre a terra. Revestido da minha pele estarei de pé. Na minha carne verei a Deus, eu próprio o verei, meus olhos o hão-de contemplar”.

A fé na ressurreição, está presente na vida da igreja, referiu o Arcebispo da Arquidiocese do Huambo, que depois de citar figuras da Igreja como São Basílio e Santa Teresa de Ávila, ilustrou o facto recorrendo ao primeiro prefácio da missa dos defuntos: “para os que crêem em vós, Senhor, a vida não acaba, apenas se transforma. E desfeita a morada deste exílio terrestre, adquirimos no céu uma habitação eterna”. Com São Paulo, assevera logo a seguir: “se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa fé”.

Do Alexandre Cardeal do Nascimento faleceu no mesmo dia em que estava a encerrar a Segunda Assembleia Anual da CEAST. Esse facto, não parece ser fruto do acaso. “A sua morte acontece no fim dos trabalhos da Assembleia, como que a significar o fim da trajectória com os irmãos na sua condição de soba grande”. Esses acontecimentos assim colocados e vistos juntos, refere Dom Zeferino Zeca Martins, “explicam o entrelaçamento de vocações e ministérios, no ideal único de salvação e de santificação destinado a todos os homens e mulheres, não obstante a diferença de histórias e de experiências de fé e de vida, explicam o nosso estar aqui, todos juntos, formando uma única família diante do Senhor nosso Deus e a volta do nosso irmão cujo corpo inerte todos juntos contemplamos”.

Falando concretamente da pessoa do Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Luanda, sublinho o seguinte: “ele foi um homem temente a Deus. De fé segura e de fidelidade incontestável. Deixou-se seduzir por Jesus Cristo a quem seguiu como cristão, como sacerdote e como pastor no episcopado”. No que a espiritualidade diz respeito, poucas palavras foram ditas, mas que resumem a densidade que o habitava. “A sua espiritualidade deveras enraizada e profunda, permitiu-lhe, ver a vida com esperança e alegria, pois acreditava que tudo concorria para aqueles que amam a Deus”.

“Torre fortíssima é o nome do Senhor” foi o lema por ele escolhido para o seu episcopado. Um lema que o ajudou ao longo de todo o percurso de pastor que teve e o manteve firme sem desanimar, sem desfalecer nunca diante de “situações tristes e dolorosas do seu povo, do seu país, do mundo e também da sua Igreja”.

Por falar em seu país, teve-o sempre com uma preocupação de filho e de cidadão, mesmo em tempos difíceis. Por essa razão, como foi referido, não se cansava de repetir: “amai Angola, amai a vossa pátria, respeitai a dignidade de todos os homens”.

O Cardeal que hoje foi a sepultar na Igreja de Jesus, “sonhou com uma Angola verdadeiramente próspera, enraizada no amor sincero e no respeito dignificante, consciente da prioridade do bem comum e confiante na felicidade de todos os angolanos e angolanas e da humanidade inteira”.

Dom Zeferino Zeca Martins terminou a homilia convidando a todos e a cada angolano, a assumir o compromisso de lutar por um país melhor, de formas a manter vivos o sonho e a luta de Dom Alexandre Cardeal do Nascimento, que esta tarde foi sepultado na Catedral da Arquidiocese de Luanda.

E foi diante da urna que continha o corpo do Arcebispo Emérito da Arquidiocese de Luanda, a olhar para todos os presentes a celebração, frisou: “Construir uma Angola melhor é tarefa de todos nós, é tarefa que cabe a cada um de nós. Construir a verdadeira paz, a verdadeira reconciliação e para que seja um compromisso diante deste príncipe da Igreja a quem hoje damos sepultura na Catedral de Luanda e aos pés de Maria”.

A celebração da missa das exéquias e as cerimónias subsequentes foram transmitidas em rede nacional pela televisão e muitas as pessoas a puderam acompanhar pela rádio.

O carro fúnebre percorreu algumas artérias da cidade de Luanda num percurso que vai da Igreja da Sagrada Família até a Catedral. A marcha foi lenta, pois os fiéis e citadinos quiseram todos despedir-se do seu Arcebispo Emérito.

Dos prédios viam-se gestos de carinho, de fé e de saudade. Nos passeios das ruas respeito, veneração e cânticos à passagem do cortejo fúnebre. Ao longo do percurso, misturados aos cânticos, a recitação do santo terço, com as contas a passar lentamente pelos dedos.

A cidade de Luanda, a Arquidiocese de Luanda, Igreja em Angola e os Angolanos todos, independentemente do credo ou de opções políticas, despediram-se hoje do primeiro Cardeal que Angola teve.

Que a sua alma, pela misericórdia de Deus, descanse em paz!

Sammy de Jesus

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