A Semana Santa já vai a meio. O Domingo de Ramos marcou o início dessa semana onde aos cristãos é dada a possibilidade de reviver com intensidade os últimos acontecimentos históricos da vida de Jesus.
Na Diocese de Viana, o Domingo que abriu a Semana Santa teve o regresso da Procissão de Ramos em algumas paróquias. Depois de dois anos sem a poder realizar, por conta da pandemia, este ano várias comunidades paroquiais tiveram a oportunidade de voltar a entoar os cânticos típicos desse dia solene. E assim com ramos nas mãos, depois de benzidos, seguiram a cantar até aos respectivos lugares para a celebração da Santa Missa.
O Bispo da Diocese, Dom Emílio Sumbelelo, esteve na Catedral e presidiu a toda a cerimónia.
Uma multidão de fiéis prencheu o recinto da Igreja. De forma ordeira e respeitando as medidas de biossegurança, os presentes participaram da celebração com fé e devoção.
Dom Emílio Sumbelelo começou por lembrar que com o Domingo de Ramos entramos “na grande semana da Fé Cristã, o tempo litúrgico mais forte, mais rico em conteúdo e de maior intensidade religiosa de todo o ano cristão, porque nela celebramos os mistérios centrais da nossa fé: a Morte e a Ressurreição de Cristo”.
É um Domingo especial, também pelo facto de a liturgia apresentar dois evangelhos. O primeiro a fazer referência a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. O Segundo traz a narração da Paixão de Jesus, “em que Jesus é condenado e crucificado no Calvário”. Para Dom Emílio Sumbelelo, o segundo evangelho do dia, “é em si um convite a contemplação e a oração, a um Deus que por amor entrou na nossa história, na história de cada um de nós para nos salvar”.
E o Bispo de Viana ateve-se precisamente ao texto da narração da Paixão, durante a homília, apesar de ter feito uma breve referência ao que texto da primeira leitura. “Na Paixão de Jesus contemplamos, antes de mais, o caminho do justo sofredor” e ao mesmo tempo temos ali “um começo de um mundo novo e de uma civilização de amor, onde todos se amam uns aos outros, como o próprio Cristo no-lo deixou como testamento”.
A seguir elencou quatro aspectos que se podem encontrar na “página dramática do evangelho”.
Jesus o Salvador enviado
Na vida de Jesus, referiu o Bispo de Viana, “tudo acontece com Jesus como foi previsto pelos profetas”. O texto da narração sublinha-o em pelo menos dois episódios: aquele que se dá no decorrer da última ceia e no do jardim das oliveiras.
No primeiro, Jesus diz aos seus discípulos: “ o Filho do Homem vai morrer conforme diz a Escritura a Seu respeito”. Já no segundo, no momento em que os guardas se aproximam para o prender, Jesus diz-lhe: “estando eu todos os dias convosco no templo não me deitastes a mão, mas esta é a vossa hora e o domínio das trevas”.
Ele, continua o Bispo, “é o Cristo”, o “Salvador prometido por Deus”, para reconduzir o homem de novo ao “Paraíso que Adão e Eva fecharam”. Portanto, “em Jesus se cumpre a promessa de Deus”.
Lição da Não Violência
A repreenção de Jesus a Pedro, quando este de espada em punho se preparava para defender o seu mestre é uma grande licção: “Já basta! Deixai-os”.
Este acontecimento mostra, segundo Dom Emílio Sumbelelo, que “a missão de Jesus é dar a vida pelo irmão e jamais agredi-lo”. Uma lição a que todos estão chamados a compreendê-la, tendo em conta que na sociedade e no mundo em que viviemos, “as vezes se associa a vingança, o ódio e a violência ao nome de Deus”.
“Não se pode matar o irmão, em nome de Deus. É contra-senso. Não se pratica a violência em nome de um Deus que é amor, de um Pai que faz que o sol se levante sobre o justo e o pecador, que faz cair a chuva sobre o justo e o pecador”.
Universalidade da salvação
A salvação é destinada a todos sem quaisquer exclusividade. Por essa razão, “Israel não deve considerar-se o único e ciumento depositário das promessas de Deus. Já desempenhou o seu papel que o Senhor lhe tivera confiado: ‘preparar a vinda do Reino de Deus’”.
Infelizmente, “Israel recusou o convite”. Uma recusa que encontra a sua máxima expressão no grito do povo diante de Pilatos que lavou as mão diante deles: “o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos”.
Nos nossos dias o evangelista quer chamar a atenção do perígo que há de se repetir o mesmo erro do passado: “negar Cristo e a Sua mensagem de Salvação, de tirar Deus na vida e na história do homem, de relegar para o privado Deus na vida de uma sociedade, relegando-o para um segundo plano”.
O Bispo de Viana adverte: “todo aquele que se separa de Cristo para seguir os messias terrenos, quem confia na violência, quem alimenta sonhos de tirania, acaba sempre em maus lençois. Faz cair sobre si mesmo e sobre os seus filhos, o sangue dos inocentes”.
A traição de Judas
Judas escolhido por Jesus tal como todos os outros discípulos, tinha tudo “para ser feliz” e se tornar “um dos pilares da Igreja”. Contudo preferiu vender “pelo preço de um escravo, a pessoa que lhe dava tudo”.
O olhar de amizade e de esperança de Cristo, não foi suficiente para o fazer mudar. Jesus lembra a Judas a gravidade do acto que estava a praticar: “O Filho do Homem vai partir, como está determinado, mas ai daquele por quem ele vai ser entregue”. Apesar da advertência, Judas foi capaz de emprestar a um gesto carinhoso um acto dramático: um beijo.
O Bispo de Viana, lembrou aos presentes a celebração as várias formas que a traição hoje toma. “Meus irmãos e minhas irmãs, escutai bem: trair Jesus é trairmos uns aos outros, é nos vendermos uns aos outros, é entregarmos o irmão a outros; trair Jesus é nos deixar levar por nossos interesses, por nossa cobiça humana e por nosso desejo por sobressair e de estar bem diante dos outros, sem medir as consequências disso. Muitas vezes vamos entregar, trair e deixar alguém de lado. A palavra traição é muito dura, doi até ao extremo da nossa alma”.
“Ao iniciarmos a Semana Santa, o Coração Misericordioso de Jesus quer se voltar a todos aqueles que têm esse sentimento de traição e muitas vezes nem percebem isso. Traiem a família, os filhos, o compromisso que um dia assumiram diante do altar, traiem a amizade, a Igreja, os valores éticos e morais. Jesus cheio de amor e de benevolência, hoje quer também olhar para cada um de nós e dizer-nos que nos ama, que o caminho que leva a Vida Eterna é segui-lO”.
Sammy de Jesus